Cultura & Lazer Titulo Choque de realidade
Livro 'Rabada' dá voz a pessoas que São Paulo desumaniza

Prefácio de Marçal Aquino e publicado pela editora Patuá será lançado no dia 21 de setembro, às 17h, na livraria Patuscada

Da Redação
16/09/2024 | 10:00
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FOTO: Divulgação


São Paulo é a Capital mais populosa do Brasil. Tem o dobro de habitantes do Rio de Janeiro – 11,4 milhões – e representa 25,7% da população de todo Estado. É muita gente. E inúmeras as histórias. Inclusive as que estampam a realidade, que não passa despercebida pelos olhos, e teclado, do escritor Alessandro Araujo, que lança, em 21 de setembro, em São Paulo, o livro Rabada, que tem prefácio do jornalista e escritor Marçal Aquino e é publicado pela editora Patuá. 

O título reúne contos que nos fazem refletir sobre a fragilidade das estruturas sociais e a linha tênue que separa os ‘cidadãos de bem’ dos marginalizados. Ao explorar o impacto do capitalismo e a ausência de um governo eficaz, os textos nos convidam a questionar a noção de cidadania em uma São Paulo colapsada. 

Com temas que tratam da violência na periferia, da realidade do proletariado e das pessoas em situação de rua, de relações e até de uma realidade fantástica, como no conto que dá título ao livro, a publicação revela uma cidade de muitos. São as crianças que sobrevivem, ou não, a tiroteios durante o horário de aula, o motoboy que é humilhado porque não entrega a encomenda na porta do apartamento, uma história de desigualdades expostas durante um assalto num café ou a vontade de comer um prato exótico, a rabada, mas com ingredientes inusitados.

Como bem adianta Marçal Aquino, a obra traz a ‘perspectiva dos desvalidos’. “O pano de fundo é sempre a metrópole paulistana, cenário frio e impessoal que a todos seduz e termina por devorar. Nessa geografia hostil, transitam os personagens de Alessandro Araujo, pobres criaturas que sobrevivem por teimosia, sempre buscando as oportunidades que parecem brotar em cada esquina da cidade. Vidas em queda-livre e em completo desengano: o sonho nunca é para todos”.

Morador do centro da cidade há mais de 10 anos, Araujo é do Capão Redondo, um dos bairros mais populosos da Zona Sul de São Paulo e cenário de uma das histórias. Segundo o autor, o livro emerge de uma profunda observação da vida urbana e das vivências que teve na sua trajetória. Inspirado pelas complexidades e contradições das grandes cidades, ele constrói narrativas de linguagem popular e acessível, que são ao mesmo tempo cruas e poéticas, oferecendo uma visão inquietante, mas necessária, da realidade.

“Queria que fosse um livro popular. A literatura precisa ter menos donos e mais leitores. É do povo. Assim como o samba. Deveria ser um direito. Quis usar minha bagagem e ficcionalizar pessoas que sempre estiveram fora do eixo dito socializado”, afirma. O autor coloca sua publicação num lugar de crítica social, lembrando textos de Rubem Fonseca, Graciliano Ramos e do próprio Marçal Aquino, que assina o prefácio. 

A ideia, finaliza o autor, é causar reflexão, dos muitos para poucos. “Não é um tipo de texto que o leitor vá se sentir confortável”. Não mesmo. Em um dos trechos, ao mesmo tempo em que conta uma história de desigualdades, afirma que “São Paulo é a cidade de todos. De todas as bocas. São Paulo tem atitude.” Será? É só ler e tirar as próprias conclusões. 




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