Início de mês, começo de semana, minha primeira participação neste espaço do Diário – uma honra e uma responsabilidade grande.
Faz cerca de quinze dias, tivemos mudança na direção da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade; assumi a missão de presidente. A você que agora se aventura a ler meu artigo de estreia, meus agradecimentos e respeito. Hoje quero abrir o espaço falando do encontro entre médico e pessoa que procura atendimento.
Em uma sociedade que valoriza o individualismo em detrimento da comunidade e valoriza mais as soluções tecnológicas que a sabedoria, a medicina se comporta da mesma forma avançando cada vez mais em termos tecnológicos e científicos. Temos hoje tratamentos cada vez mais efetivos mas não observamos aumento na satisfação das pessoas que procuram este cuidado.
A consulta é o encontro de dois especialistas. O médico é o especialista nas questões biomédicas do problema e a pessoa que procurou o atendimento é especialista em sua experiência de saúde e de doença e em como esta experiência interfere nas suas aspirações de vida. O que, neste encontro, faz diferença, faz a pessoa sentir-se melhor e aderir ao cuidado? Nós Médicas e Médicos de Família e Comunidade utilizamos algumas ferramentas para que a consulta se transforme em um espaço de cuidado e quero destacar uma delas em nossa primeira conversa: a capacidade de escuta.
Neste momento de fragilidade causado pela doença, a pessoa que procura atendimento médico deseja ser ouvida e nós MFCs utilizamos da nossa presença enquanto ferramenta de escuta. Quando mostramos que o que a pessoa fala é significativo estamos dizendo: “você é importante”.
Quando a pessoa sente que seu médico realmente se importa, ela se sente mais à vontade para relatar os seus problemas e partilhar suas angústias, o que facilita a construção conjunta de um plano de cuidados. Quando Médico e pessoa que procura cuidado discutem juntos os próximos passos aumenta-se a chance que este tratamento tenha sucesso.
Se você chegou até esta parte do texto notou que o tempo todo utilizei o termo pessoa que procura cuidado e não o consagrado termo paciente. Caro leitor, isto foi proposital porque nós MFCs queremos que as pessoas sejam agentes ativos do seu cuidado.
Sempre que se discute sobre sobre a escuta no atendimento médico a questão do tempo da consulta aparece e algumas pessoas argumentam ser difícil fazer uma consulta de forma adequada com o tempo que habitualmente dispomos para fazê-la. Nós MFCs temos algo que nos ajuda nesta tarefa que é a longitudinalidade. Atendemos as pessoas ao longo do tempo e teremos quantos encontros forem necessários para o cuidado. Mas este ja é assunto para um próximo encontro nosso aqui neste espaço.
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