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A falência do pensamento
Rodolfo de Souza
31/07/2024 | 22:40
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Fernandes


Estive pensando, porque esta é uma das minhas habilidades, acerca justamente do pensamento. Este, sobre o qual tenciono redigir algumas linhas, tem sido deixado de lado ultimamente, como roupa velha. Parece mesmo um tanto démodé usar o cérebro também para o salutar exercício do pensamento.

Chego a essa constatação simplesmente porque convivo com pessoas, e elas escancaram, com alguma frequência, sua inaptidão para lidar com a região encefálica onde se operam as engrenagens que movem a consciência, a memória, o raciocínio, a criticidade, a imaginação, tudo o que deve estar unido para essa prática. Não concebo, pois, desperdiçar tamanho torvelinho de impulsos elétricos com as futilidades que dominam o espírito da maior parte da gente deste mundo, sobretudo, daqui, desta pátria de meu Deus.

Tenho atribuído às redes sociais o desastre mental ora vigente, porque elas, afinal, permitiram a disseminação, em larga escala, da conversa fiada que, a priori, sempre fez parte da vida das pessoas, de uma forma geral. Mas foi com o advento da internet que tudo isso ganhou proporções gigantescas e incrível velocidade de propagação, fazendo com que o povo que sempre teve seu interesse voltado para a vida alheia, por exemplo, agora a tenha em tempo real, vinte e quatro horas por dia.

E, conforme a busca incansável pelo besteirol diário se agiganta, auxiliado pelo poder da tecnologia de ponta, imagino sempre ver a cabeça das pessoas murchando a cada dia, até tornarem-se do tamanho e com o aspecto de um maracujá. 

Antes, quando a maior parte da informação vinha das folhas de papel, era possível encontrar a leitura boa e a ruim. Bastava se filtrar o conteúdo. Além do que, a escrita se sobrepunha à imagem. Nos dias de hoje, no entanto, fotos, vídeos e muito blá, blá, blá dominam as publicações. 

Claro que em tempos idos, as pessoas também não tinham lá muito apreço pela palavra escrita. Soava-lhes meio enfadonha, trabalhosa demais, a ponto de abrirem a boca num largo bocejo, deixando para depois a leitura do texto. Mas hoje a imagem e o som vieram para seduzir essa gente, com definição e cores perfeitas, tudo bem mais fácil e saboroso de digerir. 

Movimento, música ruim e muita conversa mole, todavia, tolhem a liberdade de escolha, uma vez que tudo é igual e com a mesma qualidade precária. O resultado não poderia ser outro, principalmente porque esse material todo está disponível também nas telas dos celulares, portanto, bem próximo dos olhos que só olham numa direção. Outros aspectos da vida cotidiana lhes passam despercebidos.

Mais grave ainda é quando nosso pensamento recai sobre a molecada que nasceu e cresceu com um celular na cara. Aquela para quem a internet com suas redes sociais lhe fora apresentada desde que aprendera as primeiras palavras. 

Levar, pois, essa gente a descobrir os encantos que podem se esconder nas páginas de um livro, tornou-se tarefa das mais árduas, uma vez que não há tela no papel. Tampouco som, música chata e gente boba que ganha a vida faturando alto com o garboso título de “influencer” que, como o próprio nome sugere, influencia as pessoas. Quiçá fosse para a evolução de sua mente, não para a sua ruína.




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