Ações alertando sobre os riscos do consumo de alimentos ultraprocessados sobrevivem, porém, ofuscadas por veladas sabotagens, não provocam mudanças sólidas em nossos hábitos. Os boicotes se originam no descomunal conflito de interesses contemplando altas cifras, de tal modo, que aumentar a tributação destes itens é assunto discutido em voz baixa em Brasília.
Neste mesmo plano, é ao menos curioso que diante de tantas contestações e deduções científicas, a utilização de adoçantes dietéticos se mantenha vigorosa, sem que haja qualquer balanço em suas vendas.
Há um ano a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou diretriz, anotando que em qualquer de suas versões, os adoçantes dietéticos não são úteis no tratamento da obesidade, mantendo, contudo, a indicação para diabéticos. Poucas semanas depois, o aspartame ganharia status de provável agente cancerígeno, suspeita que nunca se descolou da sacarina, proibida no Canadá há algumas décadas.
Agora os holofotes estão sobre o Xilitol, tão doce quanto o açúcar, entretanto, 40% menos calórico, sendo por isso bastante utilizado na indústria alimentícia, assim como, prescrito por profissionais de saúde em dietas para perda ponderal e controle do diabetes.
A ineficácia desse produto e todos os seus pares para o emagrecimento é uma verdade estabelecida, embora insuficiente para abalar seus desempenhos comerciais, todavia, sobre o Xilitol, derramam-se as suspeitas de aumentar em muitas vezes as chances de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral.
Pesquisas recentes encontram esta relação em contexto que envolve o aumento da agregação plaquetária e a formação de trombos intra-arteriais. Se estes resultados forem confirmados em investigações futuras é possível que o Xilitol e seus análogos, entre eles o Eritritol, sejam proibidos para uso humano.
Enquanto as respostas não chegam, parece prudente que diabéticos ou simpatizantes destes compostos, utilizem opções sobre as quais pairem apenas a certeza de suas ineficiências na redução de peso, mas sem desconfianças cardiovasculares ou cancerígenas.
Quanto aos alimentos ultraprocessados, estes devem ficar distantes de todas as mesas, com ou sem majoração tributária!
Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.
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