Nunca foi tão fácil sacar uma arma e fazer uso do seu poder de fogo para matar, ferir ou mesmo intimidar o oponente que, nem sempre, constitui uma ameaça.
Antes, a despeito de estar sempre em alta o crime nesta terra de meu Deus, parece-me que bandido era mais comedido, um tanto discreto se comparado aos de hoje. É possível até que se colocasse no seu lugar de marginal e se escondesse feito rato que teme ser notado. Não buscava fama metendo um tiro na cara do semelhante, porque isso era inconcebível, e popularidade era algo indesejado pelo facínora.
Sabia, pois, o criminoso de antigamente, de sua condição de ser abjeto que a sociedade repelia. Então, buscava refúgio e só deixava o aconchego do seu buraco para executar o ofício, e depois, corria de volta, até ser encarcerado ou morto.
Só que, em tempos modernos, em tempos de redes sociais, a covardia concede projeção ao pusilânime, dando-lhe visibilidade aos montes e, por conseguinte, um bando de seguidores na rede. Sim, porque há pessoas que se afinam com a violência gratuita, e que, consequentemente, adotam o criminoso como herói capaz de deixar no chinelo os caras imbatíveis das telas. Mas é preciso que se diga que foi a partir de um determinado momento da história recente deste país que esse fenômeno se materializou e ganhou destaque, dando início ao culto à brutalidade.
Inúmeros, pois, são os casos relatados diariamente. É difícil, aliás, digeri-los sem ter o estômago revirado pelo horror e pela revolta, situação que frequentemente nos leva a buscar as séries coreanas, como forma de tentar abrandar nossos corações, oferecendo-lhes aqueles romances café com leite, entretenimento morno para fazer esquecer, mesmo que por breves momentos, a violência, muito em moda ultimamente.
Mas nem sempre é possível se esconder dos casos. Noutro dia, por motivo torpe, utilizando aqui o jargão da justiça, uma criatura a quem me recuso chamar de homem, agrediu brutalmente um senhor que veio a falecer, em decorrência do golpe sofrido. Este teria saído para passear com o neto, sem desconfiar de que, no caminho, toparia com a besta fera, ávida pelo sangue do próximo.
Em outro canto deste imenso rincão, também por causa de motivo banal, um sujeito, valente que só vendo, fez uso de sua coragem, oriunda exclusivamente do cano de uma arma, e disparou contra um veículo que trafegava na rodovia, só para mostrar a seus ocupantes o tamanho de seu poder, todo ele depositado no cano do revólver. Mais um covarde a fazer sucesso junto aos seus iguais. Diga-se de passagem, o que seria deles caso a humanidade não tivesse inventado o artefato de morte, objeto de sua predileção? Certamente estariam escondidos, uma vez que são destituídos da inteligência necessária quando é preciso fazer uso de argumentação numa discussão qualquer.
É assim, pois, a criatura que faz sucesso nos dias de hoje, ganhando as contendas no grito, no deboche, nos punhos ou escondido detrás de uma arma. Não conseguiria, pois, vencê-la de outro modo.
Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André.
É professor e autor do blog cafeecronicas.com
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.