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Tatuagem e linfoma
Antonio Carlos do Nascimento
17/06/2024 | 09:58
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Gilmar


 Os leucócitos, também conhecidos como glóbulos brancos, são primordialmente produzidos na medula óssea de vários ossos de nosso corpo, de onde partem para cumprir a missão de defender o organismo contra agressores. 

Os linfócitos são tipos específicos de leucócitos, que partem para se estabelecerem como as principais células do tecido linfoide, que além da medula óssea, localiza-se nos linfonodos, timo, baço, adenoides, amigdalas e nos tratos respiratório e digestivo. 

A localização do tecido linfoide é estratégica para detecção de invasores, nas amígdalas, por exemplo, linfócitos produzem anticorpos e atuam diretamente no embate contra vírus, bactérias e outras afrontas que tenham acessado pelo nariz e boca, ou, os linfonodos, que posicionados como entrepostos nos caminhos dos vasos linfáticos, entram em contato com os agentes estranhos que invadiram através da pele.

Sabemos há algum tempo, que alguns materiais utilizados para tatuar ficam depositados em graus variáveis no tecido linfático dos linfonodos, aqueles que recebem drenagem da área tatuada, mas nunca foi divulgado artigo científico que apontasse possíveis estragos provocados por tais substâncias. 

Porém uma pesquisa realizada na Suécia e publicada na respeitada revista médica The Lancet no final do mês de maio, sugere que indivíduos tatuados possuam chances 21% maiores de desenvolver linfoma que aqueles sem estes adornos. Curiosamente, a extensão da área tatuada, ou a cor da tinta, não se relacionaram com maior ou menor risco do desenvolvimento deste câncer.

A cadência fisiológica de produção dos leucócitos na medula óssea pode ser transtornada a partir de uma célula que tenha seu código genético modificado, ocorrendo a deflagração da leucemia, contudo, quando este processo acontecer no tecido linfoide, o câncer será o linfoma. 

Este dano do material genético pode ocorrer espontaneamente ou ser induzido por eventos infecciosos, físicos ou químicos, para estes últimos vários compostos são questionados, entre eles o formol, o benzeno e vários agrotóxicos, portanto, duvidar da segurança de um produto químico que impregnamos em nossa pele não é tão descabido assim.

O livro de patologia clínica Robbins & Cotran, no qual estudei nos anos 1980, continha um comentário frugal acerca das tatuagens: “como me casar com Pedro se tatuei José” (ou algo parecido). 

É possível que os autores do livro supracitado tenham que fazer novas ponderações!

Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.




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