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Ultrarreacionário é como se chama
Rodolfo de Souza
07/06/2024 | 10:35
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Fernandes


O mundo caminha para um abismo – dizem os otimistas. Os pessimistas se calam. Falo de pessoas que se utilizam do pensamento para tecer suas conclusões acerca do que ocorre no seu entorno. Soa meio óbvio o uso do pensamento nestas circunstâncias, admito, mas, ao expressar minha ideia desta forma, afirmo, veemente, que nem todo ser humano utiliza o cérebro, senão para conduzir seu sistema nervoso que dele depende para o funcionamento mecânico do corpo. 

Pondera, pois, a gente pensante, sobre o avanço da nociva ultradireita mundo afora, e o desalento acaba por usurpar-lhe qualquer facho de luz que, porventura, venha de alguém que, como ela, manifesta o seu desejo pela paz, pela igualdade, pela conservação da natureza, da arte, da inteligência refinada.

Mas o mundo pertence aos conservadores! Não aos conservadores que almejam o bem-estar de Gaia, mas aos algozes dela, aqueles para quem subtrair seus recursos sem permitir que se renovem, é projeto de toda uma vida. 

O conservadorismo, este cantado em prosa e em verso pelos donos da grana farta, é o que almeja estar no comando a qualquer preço, mesmo que, para isso, necessite manter sobre a cabeça do próximo sua bota pesada. Ele não deseja, pois, que se contenha o desmatamento, conservando, assim, nossa principal fonte de vida. Não deseja que se faça justiça social, dando a todos o direito à moradia, boa educação e dinheiro no bolso. Ele só trama para que se conserve um status quo de séculos, talvez milênios, que prima pela manutenção da soberba de uns poucos em detrimento do bem-estar da maioria. Definitivamente não mede esforços para sustentar uma vida que brilha mais do que a nossa estrela particular, que, aliás, se dependesse deles, só brilharia para a nata, mantendo os demais na escuridão eterna.

Penso em tudo isso enquanto ouço Bolero de Ravel, o que me toca profundamente, uma vez que não só o futuro da natureza está em xeque, mas também o da arte, a expressão que nos aproxima de tudo o que há de mais sublime na vida. E isso me aflige, uma vez que considerável parcela da população a despreza. Gente que, por não compreendê-la, a nega, assim como nega a ciência, assim como dá as costas para qualquer assunto de cunho intelectual. Tudo o que lhe foge ao entendimento é, pois, visto como opressor, bicho que veio para roubar-lhe o espírito e mandá-lo para o inferno comunista. Por esta razão, entrega sua alma ao banal, ao vil, ao de gosto duvidoso. Também a entrega, destituído de qualquer noção, ao tirano que fará dele um escravo a seu serviço, sem lhe conceder vantagem alguma por isso, somente o mesmo aborrecimento que trará aos contrários. 

E é justamente esse o tirano de espírito reacionário, que prega a liberdade, mas é contra a democracia, fala em Deus, mas estimula o ódio, defende a família, mas a destrói. 

Preocupa-me sobremaneira o fato de o mundo, aos poucos, cair nas mãos de pessoas com este perfil, que fomentam a parca educação doméstica e o ensino precário nas escolas, situação que nega às novas gerações escolher se desejam uma vida de oportunidades e possibilidades ou viver nas trevas da ignorância, sob o jugo do conservador que as mantêm fiel aos seus desmandos, normalmente violentos e com tendência fascista.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André.

É professor e autor do blog cafeecronicas.com




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