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Álcool x Maconha
Antonio Carlos do Nascimento
03/06/2024 | 10:08
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Seri


Há séculos as bebidas alcóolicas são proibidas na religião islâmica e este viés religioso motivou vários países de maioria muçulmana a elaborarem leis banindo seu comércio e utilização, alguns estabelecendo penas severas aos infratores.

Afora este contexto sagrado, o álcool tem sido desestimulado através dos tempos, com alguns países vetando seu consumo em locais públicos, e/ou, cobrando elevadas taxas para sua comercialização.

Existe extenso debate acerca de seu consumo moderado na promoção de benefícios à saúde, hipótese refutada pelos últimos consensos científicos, os quais anotam que qualquer quantidade e frequência é danosa para o organismo humano.

Em outra histórica discussão está o uso recreativo da maconha, que ao menos após os anos 1990, encontra defensores em várias frentes, grande parte desse cenário favorável é decorrente do reconhecimento de substâncias presentes em sua estrutura, as quais possuem potenciais terapêuticos para várias doenças.

De provável degrau para outras drogas ilícitas, a maconha passou a ter status de alternativa para contenção do alcoolismo, argumento bastante utilizado por alguns pesquisadores.

Um estudo publicado neste mês de maio pela revista americana Addiction mostra que os objetivos supracitados, ao menos nos Estados Unidos, têm sido alcançados e atualmente os consumidores diários, ou quase diários, de maconha, ultrapassaram aqueles de bebidas alcóolicas.

Enquanto a taxa per capita de relatos de uso diário ou quase diário de etílicos permaneceu estável entre 1992 e 2022, a de maconha cresceu 15 vezes, aumento indubitavelmente relacionado à sua legalização, já presente em 24 Estados americanos, desinibindo hábito e relato.

Mas não se desenha céu de brigadeiro para essa nova tendência, pois o consumo de cocaína e outras drogas de extremados riscos sobe assustadoramente, com difícil descarte de relação causal.

Adicionalmente, tem-se demonstrado que o consumo frequente de maconha é forte fator de risco para o aparecimento de esquizofrenia e outras perturbações psicóticas, especialmente quando iniciado antes dos 25 anos de idade.

Entre cirroses, psicoses e tantas possíveis consequências, está o que pretendemos para nós mesmos, cabe muita atenção!  

Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.




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